sábado, 11 de dezembro de 2010

NO 62º ANIVERSÁRIO DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, ASSEMBLÉIA HOMENAGEIA PADRE MOACIR CORDEIRO LEITE.


Ontem, por ocasião das comemorações do 62º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Assembléia Legislativa homenageou um dos mais destacados e destemidos sacerdotes católicos dos que lutaram contra a ditadura, pela liberdade e, sobretudo, pela Justiça Social. O padre Moacir Cordeiro Leite, com o qual tive as melhores lições de solidariedade e de compromisso de luta pela democracia, pelos direitos humanos e pela justiça social, fez história no Ceará, no Brasil e até fora do Brasil, mesmo tendo como palco de sua luta a pequena cidade de Aratuba, no maciço de Baturité. A minha experiência ali foi fantástica: recém formado, começo de 1980, tive a oportunidade de participar das mais ricas experiências comunitárias com aquela pulsante comunidade de Aratuba, cujo território, sob a liderança do padre Moacir, que era inteiramente composta de Comunidades Eclesiais de Base, onde vicejavam ações de solidariedade, organização popular e consciência crítica da religião, da política, da economia e da vida Cristã.

No meu discurso de saudação ao padre Moacir, na tarde de ontem, lembrei de vários desses momentos da caminhada libertadora do padre Moacir, sem deixar de lembrar do seu grande parceiro naqueles duros momentos, no caso o padre José Maria, outra figura extraordinária de dedicação Cristã à luta em favor dos mais humildes.

Tempos realmente duros: perseguição policial, sob determinação dos mandarins do Estado do Ceará, Polícia Federal; invasão da casa paroquial... E o padre Moacir ali: firme, equilibrado, paciente, enfrentando todas as perseguições, o que o tornou referência no Ceará, no Brasil e no mundo na resistência à ditadura. Fundmental, para ele, foi o apoio sempre muito firme do saudoso e inesquecível dom Aloísio Lorscheider que, inúmeras vezes, colocou a sua voz em defesa dos postulados de "Aratuba" (dizíamos assim porque Aratuba se tornou um símbolo da luta da Igreja da Teologia da Libertação), seja bradando em todos os recantos do Brasil e do mundo, inclusive na Igreja (não é demais lembrar que também na Igreja haviam os omissos e até mesmo defensores da ditadura) para proteger os padres Moacir e José Maria das perseguições, seja subindo a Serra do Baturité para, fisicamente, mostrar o seu apoio e a sua solidariedade àquela extraordinária luta. Na minha fala, lembrei alguns momentos vividos com padre Moacir, com aquela luta, como, por exemplo, quando, num momento tenso de uma manifestação em Canindé, diante da afirmação do Frei Lucas Dole, de Canindé, de que dava para fazer a luta pela reforma agrária sem conflito, o sempre muito calmo, mas firme, padre Moacir responde: "Pois meu irmãozinho, quando você souber como se faz essa luta sem conflito, me ensine."

Lembrei, ainda, o seu pedido ao dom Aloísio Lorscheider para receber a minha mãe (Maria Zélia Cavalcante Ramalho) e a minha avô (Francisca Ivani Citó Ramalho) para acalmá-las, diante da perseguição que a primeira vinha enfrentando por conta da minha opção política, especialmente pela decisão que tomei de refundar o PMDB em Boa Viagem. Foi emocionante e tranquilizador, para mim, constatar que, ao final da conversa de dom Aloísio, com minhas amadas mãe e avô sairam absolutamente preparadas para não só compreender, mas apoiar firmemente, ainda que com naturais receios, a minha opção por aquela luta, da qual nunca abri mão e nela permaneço.

Padre Moacir em sua fala, agradecendo a homenagem, ao invés de destacar a sua longa história de dedicação à luta do povo e à verdadeira vida Cristã, lembrou o muito que ainda precisa ser feito, alertou para a apatia que hoje reina na Universidade e naIgreja quanto a essa vivência Cristã. Muitos foram os depoimentos destacando a luta do padre Moacir: meu próprio, dom Edmilson Cruz, Maria Luíza Fontenele, Cláudio Régis Quixadá, o ex-preso político Fabiano Cunha, o jornalista Messias Pontes, o líder operário do Pirambu José Maria, os deputados Arthur Bruno, Dedé Teixeira, Chico Lopes e Heitor Ferrer (que presidiu a solenidade).

O jornal o POVO de hoje (11.12.2010) traz a seguinte matéria:

Padre Moacir é homenageado na AL

Adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) há exatos 62 anos, logo depois da 2ª Guerra Mundial, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi lembrada, ontem, na Assembleia Legislativa, em solenidade de entrega do 10º Prêmio Direitos Humanos Frei Tito de Alencar ao pároco do município de Cascavel, Moacir Cordeiro Leite.
Natural de Maranguape, o padre, que por 32 anos executou trabalhos voltados para a comunidade de Aratuba, no Maciço do Baturité, participou da formação das Comunidades Eclesiais de Base (CEB), na Pastoral da Terra, e se dedicou à luta pelos Direitos Humanos no Ceará.
A reforma agrária ainda é uma de suas principais bandeiras, segundo apontou o deputado estadual Heitor Férrer (PDT), responsável pela homenagem. “O Brasil nunca fez uma reforma agrária, mas o padre Moacir sempre lutou pela desapropriação de várias terras para os agricultores mais pobres”, disse. Para o pedetista, o pároco “é um dos mais destemidos cearenses” que defendem os princípios dos Direitos Humanos e que acreditam na mudança social.
“Esta homenagem é merecida. Reconhecer a grandeza da virtude é olhar para aquilo que o povo tem de mais belo”, acrescentou o parlamentar.
Aparentemente emocionado ao receber o prêmio, o sacerdote lembrou dos quatro à frente da juventude da Arquidiocese de Fortaleza e dos 44 anos de sua ordenação. “A minha formação foi profundamente voltada para os problemas da humanidade, desde a minha casa, com meus pais”, contou ele, que, em alguns momentos, fez questão de afirmar que seus ideais são os mesmos de Frei Tito.
Entretanto, ele lamentou que as universidades não preparem os alunos para lutar pelos Direitos Humanos como anteriormente. “No Clero também enxergamos esse problema. As paróquias deveriam se engajar mais. Se a gente entrasse mesmo em uma campanha, conseguiríamos mudar muita coisa”.
A paróquia de Cascavel, liderada há oito anos pelo padre, foi a que mais contribuiu para o projeto Ficha Limpa no Ceará. Conforme o sub-secretário da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da Regional Nordeste I da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Cláudio Régis Quixadá, “só lá foram recolhidas mais de 5 mil assinaturas”. “Ele contribuiu muito com a campanha. É um homem simples e um verdadeiro profeta”, disse Quixadá.

6 comentários:

Valdecy Alves disse...

Deodato, veja matéria que escrevi em meu blog sobre os 62 anos da DUDH. Feliz natal e felicidades.

Anônimo disse...

É justificável o incômodo da prefeita com o efeito de suas declarações sobre o poste e as eleições. Experiente em política, Luizianne percebe que as palavras soam agressivas até com o eleitor, que é o que lhe dá tom mais grave.

Prof Alfredo Carlos ! disse...

Colegas blogueiros,

Ontem na rádio Liberdade, no programa do meio dia, escutei atentamente o resumo de Deodato Ramalho sobre a homenagem prestada ao Padre Moacir pela Assembléia Legislativa do estado do Ceará. Não pude na hora me posicionar porque o horário de rádio é muito curto e tinhamos outros vários assuntos para discutir. Entretanto o faço agora, pois não poderia deixar de fazer alguns pequenos comentários, para que o povo de Boa Viagem conheça também o que foi a figura de Deodato em todo esse processo. Quando eu aportei aqui em Boa Viagem, no dia 24 de agosto de 1981, data histórica do suicídio do Presidente Vargas, foi Deodato um dos primeiros que eu conhecí, no combate a ditadura militar que já fazia 17 anos que estava em nosso País. Pude separar bem àqueles que defendiam o Governo Militar, e aquele que tinha fundado o MDB local, juntamente com a Professora Zeuta e os Deputados Mauro Benevídes e Paes de Andrade. Recém formado, como ele mesmo afirma, lutou praticamente sozinho em Boa Viagem, arriscando sua vida, de seus filhos, de sua família. Nunca se curvou aos detentores do poder, foi convidado várias vezes para se coligar politicamente com os filhotes de coronéis local, nunca aceitou, se manteve rígido em suas convicções ideológicas e de caráter pessoal. Foi perseguido pelas emissores de rádios locais, foi impedido de falar, ninguém queria conversa com Deodato Ramalho, diziam: é perigoso, é comunista, gosta de Cuba, gosta da Rússia, é vermelho, quem se juntar a ele, poderá perder o emprego e ainda tirar meses ou anos de cadeia. E tem muito mais. Fosse eu contar aqui tudo que sei, esse blog, seria pequeno demais. Nessa grande homenagem ao Padre Moacir, incluo também minha homenagem pessoal a Deodato Ramalho, jovem Advogado à época. Homenageio também os seus poucos companheiros da cidade de Boa Viagem, que naquela época, o acompanhava nas pugnas políticas de nossa Cidade. Hoje temos Democracia ampla, devemos um pouco dela ao Dr. Deodato Ramalho, sua luta, seu sofrimento, suas lágrimas, não foram em vão. Esse registro deve ficar para nossa história, pois os jovens de hoje serão os homens de amanhã, esses jovens precisam saber de tudo isso. Ninguém em nossa cidade deve esquecer isso nunca. Forte abraço ao grande companheiro de muitas lutas e pela sua causa.

Prof Alfredo Carlos ! disse...

Colegas blogueiros,

A Prefeita já pediu desculpas ao povo de Fortaleza e do Ceará. Ela disse que foi mal interpretada, vamos aceitar suas desculpas e esperar que não saia mais declarações dese tipo.

Anônimo disse...

ALFREDO CARLOS, VOCE DISSE QUE ERA BONITA AS DECLARAÇÃO DA PREFEITA DE FORTALEZA AGORA ESTA DANDO RAZÃO AO POVO, SO PRA VOCE SABER QUE ELA NÃO ESTA COM ESSA BOLA TODA.

Anônimo disse...

Na verdade, a inflação é muito maior, a manipulação com parâmetros escolhidos pela equipe econômica do governo é que aponta para índices mais baixos, com prejuízo para os poupadores. Pelos parâmetros do povo, a inflação já passou 1% ao mês, há muito tempo. Nos supermercados, alguns produtos tiveram seus preços muito elevados, como o açúcar, por exemplo, o peixe, a carne, o feijão e outros de primeira necessidade... Agora, vamos ter mais arrocho, os funcionários públicos vão para o 14º ano sem aumento e o Sr. Mantega ainda tem o desplante de dizer que esses funcionários estão ganhando bem e tiveram aumento, citando o judiciário. Ora, certamente, os juízes do judiciário. E o resto do funcionalismo há 14 anos sem aumento? PS %u2013 Eu não sou funcionário público, Deus me livre!