terça-feira, 19 de maio de 2009

Ditadura ou ditabranda? O sociólogo ou o jornalista?

O jornalista Alexandre Garcia, velho porta-voz oficioso da ditadura militar, fez recente artigo assumindo sua posição pró-Folha de São Paulo no episódio em que aquele jornal miniminou os atos da ditadura militar no Brasil. No blog do Eliomar de Lima fiz um comentário sobre o assunto. Agora, também no blog do Eliomar, o sociólogo e advogado Pedro Albuquerque (ex-preso político, combatente na guerrilha do Araguaia), elaborou o artigo que transcrevo abaixo. Uma das razões de postar o artigo do Pedro diz respeito à coincidência da abordagem com o que estamos fazendo na Rádio Liberdade e no Blog, ou seja, estimulando o livre debate das idéias.

"Meu caro Eliomar,
Esse Alexandre Garcia não merece crédito. O seu artigo prova isso. Ele é a voz oficial da manipulação “globeleza”. Mas esse seu artigo é tão bem elaborado que deixa os incautos em dúvida. Se eu tivesse blog, abriria, tal como você fez, um espaço para a discussão de temas impertinentes. E colocaria o artigo desse jornalista da ditadura como uma produçao impertinente, daquelas que provocam polêmica, discussao, irritação. Faço isso como professor.
Um dos impertinentes que eu gosto de usar em sala de aula é o Oscar Wilde. Mas desse eu gosto. Uso também aqueles com os quais eu não concordo. Um dia levei o jornalista Temístocles de Castro e Silva para uma de minhas aulas. Ele me disse que era a primeira vez que, como convidado, usava a palavra numa universidade para expressar, livremente, sua opinião.
Acho que esse é o papel do professor: ajudar seus alunos a pensar, a saber enfrentar a polêmica, o contrário, a desvendar o mundo sem preconceitos e sem vendas no olhar. É claro que eu não tenho o aprovo de muitos de meus pares. Mas isso também faz parte do papel do professor: não sou “candidato” a professor para me importar com a opinião de meus pares quando se trata de liberdade de cátedra.
Eu estou e sou professor quando atuo de forma pedagógica. Se eu fosse jornalista, também publicaria esse artigo do Alexandre Garcia para estimular o debate e a reflexão. Esse jornalista, tal como o coronel Jarbas Passarinho, é personalidade das mais cínicas daqueles tempos sombrios, na minha avaliação, pois manipula, com maestria, a palavra. Mas para confundir, enganar, alienar… para esconder a verdade. Ou dizem verdades para encobrir as mentiras. Sabem bem trabalhar a farsa.
Mas jamais cercearia suas liberdades. Pelo contrário, abriria todas as portas para suas vozes e as expressões de suas penas, justamente porque é no embate em liberdade que se pode melhorar o mundo e vaciná-lo contra as ditaduras. O conhecimento não nasce da irenização do ambiente, mas de sua polemização.
Diz Oscar Wilde que os agitadores são necessários, pois sem eles, em nosso estado imperfeito, a civilização não avançaria. E os agitadores só existem porque a verdade é disputa, é diferenciação, é conflito, é complexidade, é incerteza e é luta.
Abraço,
Pedro Albuquerque
Albuquerquedealbuquerqueneto.pedro@gmail.com

Um comentário:

Alfredo Carlos ! disse...

Deodato, o Alexandre Garcia velho conhecido nosso, com sua voz mansa e fria, deve detestar o sucesso do governo Lula. Juntamente com outros serviçais da rede globo, fiéis aos ideais fascistas e ditatoriais que já com tirania e desmandos dominaram o mundo no passado.Hoje o Alexandre sente na pele o que é democracia, talvez ele tenha ciúmes do seu colega Francklin Martins, ex guerilheiro no Arraguaia que juntamente com Genuíno e outros lutaram ativamente protestando contra o regime de 64.Garcia no fundo sente talvez muita inveja do Jornalista Francklin Martins.