quarta-feira, 22 de abril de 2009

QUEM, DE VERDADE, É VENCEDOR?


Lendo esse belo artigo do professor Otávio Luiz, jovem e talentoso jurista do Crato, não pude deixar de lembrar de alguns pobres de espírito e defensores de corruptos e da corrupção, que vez ou outra frequentam no nosso blog.


TALENTOS E DESALENTOS

A palavra talento (do latim talentum e do grego tálanton) significa uma medida de valor monetário. Era antiga moeda usada por gregos e romanos. E, como tal, aparece na Bíblia em diversas passagens. A mais importante delas está no Novo Testamento (São Mateus, XXV:14-30). É a famosa "parábola dos talentos": um homem, antes de viajar, confia a três servos quantidades desiguais de moedas, os talentos. Quando volta, percebe que os que receberam menos "talentos" arriscaram e fizeram-nos render. Aquele que recebeu mais "talentos" foi temeroso dos riscos e guardou as moedas, escondendo-as na terra. No ato de prestação de contas, o senhor foi generoso com os servos prósperos e condenou às "trevas exteriores" o empregado medroso.

Essa parábola serve muito bem ao que hoje escrevo: os talentos, palavra que, por metáfora, passou a simbolizar algo mais que a simples riqueza material. Ser talentoso é possuir inteligência ou habilidade excepcionais. A aproximação entre a moeda e esse dom é óbvia, se interpretarmos a parábola. Deus atribui aos homens essas qualidades e quer de todos o investimento em seus dons para frutificá-los, desenvolvê-los e, assim, prosperarem. Não aplicar esses talentos é algo tão grave que Deus condena os tímidos às penas do inferno. Mas, como ser talentoso em dias como os nossos? O bem-sucedido é o canalha ousado. Estudar? Para que? Vence o melhor relacionado, o apadrinhado, o político, o intrigante. Mesmo quando se entra em uma corporação, por concurso ou por eleição, o crescimento dá-se por esses instrumentos. E dizer que não, nos dias de hoje, soa como uma piada de salão ou como se desprezássemos a inteligência do interlocutor.

Esse quadro se torna ainda mais dramático quando se está em uma região pobre, abandonada por suas elites, com muitos líderes que não pensam nem mesmo em sua própria geração (que dirá em seus filhos). Esse desalento, porém, não pode ser justificativa para que permaneçamos inertes. A vida está aí. Os problemas ao nosso lado. As dificuldades sobre nossos ombros. A ausência de expectativas faz parte da paisagem. Nada disso vai sumir. Nem com um passe de mágica. Aos que não foram bafejados por essa sorte sinistra, que conduz nulidades ao pódio da vida, resta lutar. Contra moinhos de vento, como Dom Quixote? Sim. Contra tudo e contra todos. Mais do que isso. Contra nós mesmos. Nossos medos, nossas frustrações, nossa revolta. É necessário canalizar energias boas a partir dos sentimentos de indignação.

O trem possui muitos vagões e, apesar de tudo, ainda há espaço para os bons. Superar esse destino, que parece haver sido traçado em tintas vermelhas de imutável crueldade, é um jogo que vale a pena ser disputado. O pior que pode acontecer é não atingir todos os objetivos, mas, com certeza, se terá dado um passo à frente.

Termino a crônica com uma homenagem a Almir Olímpio Alves. Filho de camponeses pernambucanos, único de 5 irmãos a se formar, professor da Universidade Federal, doutor em Matemática. Morto nos Estados Unidos por um assassino em série, um vietnamita lunático que se sentia um "perdedor", o termo usado para designar aqueles que foram moídos pela máquina de moer gente, que é a competitiva sociedade americana. Antes de ser alvejado, lutou com o assassino e tentou impedi-lo de exterminar outras vítimas. Herói em vida, morreu heroicamente. Lutava por seus filhos e para melhorar a vida de seus irmãos. É preciso dizer mais? Seu gesto resume tudo. E nos envergonha, quando desejamos enterrar nossos talentos, por medo de perder o pouco que supomos ter.

Otavio Luiz Rodrigues Junior é doutor em Direito Civil (Universidade de São Paulo) - Jornal do Cariri, 22/04/2009.

Um comentário:

Alfredo Carlos ! disse...

Nesse excelente artigo, que tanto tem de questionador como de avaliador, me pronuncio da seguinte forma: Há famílias pelo Brasil e pelo mundo, que educam seus filhos dentro dos padrões normais, tradicionais, humildemente os colocam na escola, eles estudam, fazem faculdades e depois começam a trabalhar e se desenvolvem muito bem. O que é o contrário disso: São pessoas que se acham espertos demais, crescem na vida utilizando meios subreptícios, enganam a Deus e ao mundo, possuem processos em quase todas as esferas do Judiciário, ficam ricos e perdem o sossego. Vejam a verdadeira diferença nesses dois exemplos e analisem bem, qual dos dois você queria para os seus filhos.